31/01/2015

Leituras de Outubro: As mulheres casadas não falam de amor, Melanie Gideon

Título: As mulheres casadas não falam de amor
Autor:  Melanie Gideon
Edição/reimpressão: 2013
Páginas: 459 
Editora: Suma das Letras


Sinopse:
Alice está casada com William há vinte anos. Recorda-se, como se fosse ontem, do dia em que o conheceu. No entanto, ultimamente, é ao Facebook, e não ao marido, que confia os seus pensamentos mais íntimos.
Um dia, recebe um questionário anónimo sobre amor e casamento da parte de um Investigador 101. Decide responder, sob o pseudónimo Mulher 22, sem imaginar que isso mudará a sua vida.

Confissão após confissão, Alice sente-se cada vez mais livre e também mais apaixonada pelo Investigador 101, genuinamente interessado nos seus sentimentos como há muito ninguém estava. Alice não tarda a ver-se confrontada com uma decisão potencialmente devastadora: cessar toda a comunicação com o Investigador 101 para salvar o casamento ou admitir que o coração lhe levou a melhor e está novamente apaixonada.
Com uma voz fresca, comovente e divertida, As Mulheres Casadas Não Falam de Amor é a história de uma mulher que, tentando reencontrar-se, corre o risco de descobrir que, afinal, quer estar onde sempre esteve.
Críticas de imprensa
«Excelente... O romance de Gideon é um retrato honesto de uma mulher que tenta reconciliar-se com os seus desejos e responsabilidades, assim como uma reflexão pertinente sobre o anonimato e a intimidade na era da comunicação digital. Uma estreia literária brilhante.»
Publishers Weekly

«As Mulheres Casadas Não Falam de Amor descreve a facilidade incrível com que revelamos a nossa intimidade a perfeitos desconhecidos, mas não àqueles que amamos.»
Vogue



O livro: A capa não tem muitos detalhes, apenas um coração e um cadeado, simbólico, leva-nos ao tema do livro, que o coração é um lugar guardado e com muitos segredos…

Temas: amor, família, relações, cumplicidade

Género/público: romance

Personagens favoritas: Alice, o centro do romance

Escrita: simples e agradável

História: Este romance foi uma lufada de ar fresco depois de algumas leituras mais pesadas e com uma carga emocional muito grande. Roça a comédia, a realidade e tem momentos que nos colocam algumas lágrimas nos olhos. Ideal para tardes de verão ou de chuva no sofá. Pelo que sei foi também o primeiro romance da autora. Um romance entre a realidade e a vida virtual de uma escritora de teatro, algo frustrada por não ter conseguido vingar no mundo do teatro. A realidade de uma mãe, esposa e amiga virtual que tenta combater a rotina participando num estudo sobre o casamento.
Alice agora Mulher 22, através de um questionário faseado, vai questionar a sua rotina e a sua relação de 20 anos com o seu marido William, ele também publicitário famoso, a atravessar também uma crise profissional/pessoal e a relação de ambos com os filhos. O que Alice não esperava é que esse estudo, essa viagem interior e a crise no casal a levassem a sentir um desejo de mudança, uma atracção cada vez maior pelo Investigador 101 que conduz o estudo.
Abordando de forma leve e descontraída os perigos das redes sociais, a autora enfatiza a falta de cuidado dos jovens e menos jovens com a partilha de informação nas redes sociais e as suas consequências. E vemos toda esta série de acontecimentos tornarem-se um enredo que vira peça de teatro.
Aliás todo o romance aborda com um tom ligeiro questões muito sérias, problemas reais: casamento, filhos, desgaste profissional e pessoal, as relações com o exterior: os amigos, as relações com colegas/pais/professores, ambições, decepção, a forma como os sentimentos são mais facilmente partilhados no mundo virtual que no mundo real e a maneira como o romance rapidamente dá lugar à rotina. E em alguns casos como nos identificamos com algumas situações.
Adorei a maneira como o enredo ia intercalando com o tal inquérito em que Alice participava, isto porque é uma história dentro da história, a história de Alice e de William antes do casamento e nos seus primórdios. E só por acaso descobri a meio do livro, que as perguntas estavam todas no final! Até nós nos questionamos sobre as condições para um casamento de sucesso, como manter acesa a relação com o outro, manter amigos e não cair na rotina instalada. O questionário é o meio pelo qual ficamos a conhecer o passado de Alice e William, a sua história, e este vai sendo intercalado com o presente o que faz com que a narrativa seja mais interessante, aguçando ainda mais a nossa curiosidade.
Também temos duas perspectivas na história, a de Alice e William, e não podemos ser impaciais, porque temos acesso aos sentimentos de Alice, preocupações, angústias, no entanto o mesmo não acontece com William. Ele é reservado ao longo do livro, temos pouca informação, e é sempre dada na perspectiva de Alice.
O texto deste romance é muito variado, temos narrativa, os mails, as mensagens e actualizações do Facebook, o questionário. Para quem não gosta de tanta diversidade pode ser uma leitura pouco confusa e atabalhoada. Mas no seu conjunto torna-se um romance leve, agradável que analisa as emoções do casamento e das relações com os outros. E que nos permite descontrair uma tarde e não ler nada tão profundo que nos tire o sono!

Citações favoritas: “When I'm in pain I want everyone I love on the island with me, sitting around the fire, getting drunk on coconut milk, banging out a plan.” 

Período de Leitura: 26 a 30 Outubro

Nota:


Leituras de Outubro: Outubro, Kamile Girão

Título: Outubro
Autor: Kamile Girão
Edição/reimpressão:  2014
Páginas: 236
Editor:  Independente

 

Sinopse - Outubro - Kamile Girão

"Você sabe o por quê das folhas caírem no Outono?" Shau desconhecia a resposta para aquela pergunta - até conhecer Kaero Morgan. E, naquele Outubro de 2004, ele encontrou, no auditório da escola, aquela que lhe mostraria não apenas a razão pela qual as folhas abandonam suas árvores durante a estação que precede o inverno, mas que, também, ensinaria o rapaz de roupas largadas e desânimo constante a virar um homem. Outubro, 2013. Para Felipe Alves, seria somente mais um dia de árduo trabalho no hospital. Contudo, ao entrar no quarto 706, o jovem enfermeiro percebeu que aquele não seria um mês comum. Após tantos anos, a vida finalmente lhe deu a chance de rectificar os erros do passado e de livrar-se, finalmente, das folhas velhas que persistiam na árvore da sua vida.




O livro: A capa nos ebooks é difícil de descrever e no Kobo é a preto e branco, mas fui procurar uma edição bonita, com as cores outonais e as folhas que são tão simbólicas no livro.

Temas: amor, depressão, desilusões, escolhas que condicionam o futuro

Género/público: jovem adulto, drama, romance

Personagens favoritas: Kaero pela determinação e coragem de escolher o caminho que traçou sozinha.

Escrita: envolvente, intensa, natural.

História: O livro? Estava entre alguns para ler no e-reader. Andou lá uns tempos e como raramente levo um livro-livro para o trabalho, numa das pausas escolhi este para começar a ler. Gostei muito desta história, aborda temáticas controversas e algumas, ainda consideradas como tabu. Certamente não muito abordadas em romances: uma heroína doente com uma doença como o HIV e o aborto. A partir do momento em que comecei a ler fiquei agarrada às palavras daquela história de amor trágica.

A história roda em torno de Felipe (mais conhecido por Shau) e Kaero, uma promissora jovem pianista que dá aulas na escola local. Kaero e Shau apaixonam-se, vivem um breve romance com consequências trágicas para Kaero. Kaero é uma jovem com objectivos definidos e nada/ninguém se vai interpor nos seus planos de ir viver como o seu pai para Inglaterra e estudar para ser uma pianista famosa. Felipe está perdido, não sabe bem o que fazer com a sua vida, tem apenas uma certeza, a de que gosta muito de Kaero e faria qualquer coisa por ela. Kaero representa a ordem, o sentido que Felipe procurava para a sua vida. Mas nem mesmo o amor deles resiste… e separam-se.

O reencontro? Anos mais tarde num quarto de hospital onde Kaero está internada com pneumonia e portadora do vírus do HIV. E Felipe? Um agora enfermeiro, muito bom por sinal, que encontrou o sentido para a sua vida e o seu antigo amor.

A história alternada entre o passado em 2005 e o presente em 2013, a imaturidade versus a maturidade, a aceitação e a intensidade dos sentimentos de ambos. Felipe e Kaero vão mergulhar no seu baú de memórias e transportar-nos a uma linda história de amor, algo trágica, mas repleta de metáforas e alusões fantásticas. E então, naquele dia de Outubro, Felipe entra no quarto, terá oportunidade de finalmente virar a página e ficar em paz com o passado.

Kaero e Shau são quase metáforas para “bem” e “mal”, organizado e desorganizado, perfeição vs imperfeição. É aquela atracção que gradualmente cresce para um amor profundo que vem desequilibrar a balança. Kaero torna-se menos cuidadosa, Shau torna-se mais consciente de si e dos outros. Kaero é imprudente, Shau tenta assumir as suas responsabilidades e finalmente tudo culmina num acontecimento que vai mudar a vida de ambos para sempre.

Não quero contar a história do livro, como fiquei presa ao enredo, que desfilou perante os meus olhos e eu cada vez mais presa à narrativa. Só posso dizer que é um livro que nos toca, pela simplicidade, pela realidade, pela maneira como passado e presente se entrelaçam e no fim pela linda analogia que é criada com o Outono.

Citações favoritas: " Os bons momentos servem para ser guardados na memória, mas não podemos prendê-los, assim como não podemos forçar uma árvore a aceitar novamente aquela folha que já caiu. "


Período de Leitura: 20 a 8 Outubro

Nota:

Leituras de Outubro: Os sobreviventes, Charlote Rogan


Título: Os Sobreviventes
Autor:  Charlotte Rogan
Edição/reimpressão:  2013
Páginas:  272
Editor:  Editorial Teorema

Sinopse
No verão de 1914, o luxuoso transatlântico Empress Alexandra naufraga durante a viagem entre Londres e Nova Iorque. Os barcos salva-vidas não têm lugares para todos e a sobrevivência de alguns implica a morte de outros. A jovem Grace consegue um lugar num salva-vidas sobrelotado. Com os companheiros a lutarem desesperadamente contra os elementos e entre si, numa volátil disputa de poder, Grace observa e espera. Ao longo de três dramáticas semanas, os passageiros do salvavidas conspiram, confrontam-se e consolam-se uns aos outros num espaço exíguo. A suas crenças sobre humanidade e Deus e o que pensavam saber sobre si próprios será testado ao limite à medida que descobrem do que são capazes para sobreviver.
Críticas de imprensa
«Charlotte Rogan emprega uma narrativa enganadoramente simples para analisar a capacidade do ser humano para se enganar a si próprio.»
J. M. Coetzee

«Um livro grandioso. Prende o leitor e submerge-o em suspense e ambiguidade.»
Hilary Mantel
http://www.wook.pt/ficha/os-sobreviventes/a/id/15008085



O livro: A capa não tem nada de especial mostra-nos um mar agitado com uma pequena embarcação no meio, de certa forma antecipa um pouco o conteúdo do livro.

Temas: ética, sobrevivência, medo, moral e costumes

Género/público: drama, romance

Personagens favoritas: Grace pela coragem e Hardie pela sua determinação

Escrita: Simples e ritmada, alternando entre passado e presente, quebrando um pouco por vezes o ritmo da narrativa.  

História: Este livro foi uma agradável surpresa, não conhecia nem a autora, nem o título. Tentei afastar-me neste mês de autores conhecidos e dos livros do momento, e este livro foi uma das leituras que me permiti fazer e que me surpreendeu.

É uma leitura algo difícil, colocarmo-nos no lugar das personagens principais, sem tormar partido e sem criticar as escolhas feitas. Temos como temáticas: medo, ética, moral e dúvidas, muitas dúvidas, que nos levam a pensar até onde alguém poderia ir para se salvar numa situação daquelas.

O que mais me chocou no livro é a falta de solidariedade e mesmo a crueldade e frieza das decisões tomadas em nome da sobrevivência e até onde vamos para sobreviver. O sacrifício de uns em prol de outros que parece nada significar, e mesmo a insignificância da vida humana perante a imensidão do mar. Os personagens do barco são também simbólicos, cada um deles representa um pouco da sociedade da época, as trabalhadoras italianas, a senhora de alta sociedade, a filha de boas famílias, a rica recém casada, o clero, o idoso, a mãe de família. Todos eles terão um papel diferente no desenrolar da acção, uns evidenciam-se mais que outros e outros nem sequer têm muito enfoque. Ora se a sobrevivência de todos dependia de todos, é estranho o foco cair somente sobre determinadas personagens como sendo Hardie e Grace.

O livro tem uma narrativa alternada entre o naufrágio e o passado de Grace, o seu plano para conquistar o marido, para não ser obrigada a levar uma vida como empregada doméstica ou governanta. Grace relata a permanência no barco salva-vidas durante as três semanas que lá passa, as lutas pelo poder, a decisão sobre quem fica ou quem se sacrifica, a grandeza de espírito de uns e a pobreza e mesquinhez de outros. O mais difícil para mim foi mesmo ao ser confrontada com algumas das situações pensar no que poderia fazer de diferente, mas damos por nós a concordar com algumas das decisões tomadas. Eu não gostei do que fizeram a Mr. Hardie, afinal ele era o único que sabia como poderiam sobreviver, era um homem duro, exigente mas que comandava o barco.

Gostei do livro, mas acho que houve muita história por contar, afinal o que aconteceu a Grace? Qual a história subsequente? Sabemos que o advogado dela desempenhou um papel importante na sua recuperação, mas e dele o que sabemos?

Citações favoritas: "...Meus passos já não vacilavam mais, e mesmo quando tive a certeza de que não havia ninguém à minha espera, foi com segurança que avancei na direcção do futuro e do que ele me reservava."
 
"A vida naquele momento voltava a parecer um jogo para mim, um jogo que eu podia até vencer [...]. Não se pode viver por muito tempo sobre o fio de uma navalha sem cair para um lado ou o outro, como minha experiência a bordo do barco salva-vidas mostrou com tanta clareza."

Período de Leitura: 15 a 20 Outubro

Nota: