Assim que “ouvi falar” deste livro soube que seria um daqueles a colocar na estante, um livro sobre livros e pessoas que amam livros e II Guerra Mundial, mas como os livros desempenharam também um papel essencial na manutenção da moral das tropas e dos prisioneiros de guerra.
A biblioteca americana de Paris era um espaço de encontro para conterrâneos americanos fora do seu território nacional, era um local de troca de ideias, de encontros, de partilha e de convívio. Até que chega a guerra e os seus efeitos nefastos afecta a biblioteca também. No livro acompanhamos a história de Odile, uma jovem francesa que sonhava trabalhar na biblioteca americana, a sua vida familiar, o desejo do seu pai de a ver casada, o irmão que se opõe claramente ao regime, mas é ainda pintado nas páginas iniciais como um jovem sem um propósito definido na vida, a mãe de ambos que acompanha os filhos e não deixa que nada falte ao seu querido marido! Parece um estereótipo, que não vamos acompanhar nada de novo, mas pelo contrário! Odile vive o seu grande sonho, com o emprego na biblioteca, acompanha pessoas fascinantes, cim credos diferentes, ideias diferentes de classes diferentes, mas ali respiram-se livros e é o local favorito de Odile. Mas a chegada dos nazis transforma esse espaço e as suas pessoas, instaura-se um clima de medo, livros são arrumados, outros enviados para locais distantes, ainda assim o facto de o " Bibliotheksschütz" proteger um pouco a biblioteca, não pode controlar o que acontece aos seus leitores, os judeus que são impedidos de frequentar o espaço e a quem Odile e outros bibliotecários arriscam para levar livros atécàs suas casas, e aqui temos um vislumbre da crueldade do tratamento dado aos judeus, primeiro impedidos de entrar e locais públicos, encerramos em suas casas, portadores de uma marca até ao despojo completo de bem e deportação para os campos de concentração.
A história é-nos contada por uma Odile mais velha, a viver em Montana, e que rememora o seu passado,e também pela sua jovem vizinha, Lily. Alternamos entre presente (anos 80) e passado (1939-1944), vivemos o drama de Odile e o de Lily que tenta ultrapassar uma perda familiar irreparável. É com muito suspense e mistério que recolhemos pedaços da história de Odile, e foi uma história tão triste! Por isso fiquei feliz que Odile tenha feito de Lily a sua protegida e voltasse a poder a confiar em alguém, a partilhar, a ajudar e a incentivar Lily sempre a perseguir os seus sonhos!
Apesar de ser Lily quem estava a passar por uma fase muito má da sua vida, acabou por ser ela a salvar Odile da solidão. Ambas tornaram-se a muleta uma da outra, apoiaram p-se, fizeram confidências, aprenderam. E no final foi bom ver que apesar de ambas ainda um pouco magoadas foram capazes de virar a página e viver com as boas lembranças.
Este é um livro com uma escrita fantástica, envolve-nos, enreda-nos com as palavras de tal forma que quando demos conta é difícil pôr a leitura de lado! Recomendo!!
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Excertos Favoritos:
“Quem é o seu autor preferido? — perguntou Miss Reeder. Quem é o meu autor preferido? Uma pergunta impossível. Como podia alguém escolher apenas um? Por isso mesmo, eu e a minha tia Caro tínhamos criado categorias — autores mortos, autores vivos, estrangeiros, franceses, etc. —, para não termos de decidir. Pensei nos livros que tinha tocado na sala de leitura momentos antes, livros que me tinham tocado a mim.”
“A Biblioteca era mais do que apenas tijolo e livros; a sua argamasse era constituída por pessoas que cuidavam umas das outras.”
“Eu tinha aprendido que o amor não era paciente, o amor não era bondoso. O amor era condicional. As pessoas que nos eram mais próximas podiam virar-nos as costas, dizer adeus por uma coisa que parecia insignificante. Só podíamos depender de nós próprios. A minha paixão pela leitura cresceu — os livros não traíam.”
“— Pareces-me pensativa. — Odile passou-me Os Marginais. — É sobre família, aquela com quem nasces e aquela que crias com almas irmãs. É sobre a maneira como arranjamos um lugar para nós neste mundo.
— Os seus livros têm sorte — comentei. — Têm um sítio exacto onde devem estar. Sabem quem têm ao seu lado. Quem me dera ter um número decimal de Dewey.”
“A professora Cohen estendeu-me um romance de Laura Ingalls Wilder intitulado O Longo Inverno. — Marquei uma passagem particularmente memorável. Durante uma tempestade de neve, uma família de colonos, todos enroscados uns nos outros na sua cabana, sem se conseguirem aquecer. O pai começa a tocar a rabeca e diz às três filhas para dançarem. Elas riem-se, e dançam, e isto impede que morram congeladas. Mais tarde, o pai tem de ir tratar do gado, senão os animais morrem. Quando sai, não vê seis centímetros na sua frente. Avança agarrado à corda de estender roupa para chegar ao celeiro. Dentro de casa, a mãe sustém a respiração, à espera. — Quando peguei no romance, a professora Cohen cobriu-me as mãos com as suas.” — Não sabemos o que temos pela frente. A única coisa que podemos fazer é agarrarmo-nos à corda.”
“Foi Miss Reeder quem disse acerca dos livros que «nenhuma outra coisa possui aquela mística capacidade de nos fazer ver com os olhos de outras pessoas. A Biblioteca é uma ponte de livros entre culturas», quando publicitou o Serviço dos Soldados.”