27/06/2021

Leituras 2021: A linguagem secreta das flores, Vanessa Diffenbaugh

 

Este foi um livro surpreendente, uma recomendação feita num grupo de livros. Um livro com uma capa magnífica e com uma história surpreendente. Não, engane-se quem vem à procura de um romance cheio de cor e alegria, pois não o é. Esta é uma história de superação, de amizade e de coragem, porque aprender a amar nem sempre se faz através de um caminho solarengo e cheio de luz e é necessária muita coragem para enfrentar o passado.

A história é a de Victoria Jones, desde cedo incompreendida e com uma personalidade difícil que afasta as pessoas. Passou por diversas famílias de acolhimento e nunca se integrou, até chegar à casa de Elizabeth que a acolheu e lhe ensinou tudo sobre as flores e os seus significados. Pensamos que Victoria e Elizabeth vão criar uma pequena família, mas um acidente deita tudo a perder e novamente Victoria perde a sua casa. 

A história alterna passado e presente, vai contando os detalhes de como Victoria sobreviveu a mais de 30 casas de acolhimento, e como tudo muda quando completa os 18 anos. Obrigada a deixar o abrigo onde vive, é nas flores que encontra a salvação, ao conseguir um pequeno trabalho a ajudar uma florista.  A sua paixão por flores permanece, será a sua salvação, a maneira pela qual se vai libertar do passado e iniciar o caminho de regresso àquela que foi sempre a sua casa, Elizabeth e a sua quinta.

Ao se cruzar com um rapaz no mercado de flores, Victoria fica “mais perto” de casa, esse rapaz é o sobrinho de Elizabeth, Grant, uma das pessoas que Victoria magoa no seu caminho, mas a quem ficará irremediavelmente ligada e quem a pouco e pouco a consegue ajudar a empreender o caminho de regresso a casa e finalmente permitir-se ser feliz. Não vou contar mais porque o enredo é tão rico, tão bom e tão envolvente que só lendo é que perceberão a história! E se há algo que podemos retirar da história é que todos podemos mudar, somos definidos pela experiências que temos, mas somos nós que definimos quem somos e como somos.

É sem dúvida um livro envolvente, uma escrita muito cativante, com descrições ricas e cheias de cor e outras não tão alegres mas cheias de simbolismo. Este livro reflete verdadeiramente uma paixão e como essa mesma pode ser a âncora que salva um navio de ser arrastado pela corrente. Victoria, à deriva na sua vida, compreende com a ajuda de Renata e a sua fanília, que não é a única que sofre, que cada pessoa passa por eventos que as marcam, as magoam e que será o amor, a família e a confiança que acabam por ajudar a ultrapassar as situações mais difíceis. E que a ajuda por vezes aparece nos lugares onde menos se espera, será Renata a dona da florista que acabará por lhe demonstrar que também ela foi magoada, abandonada que cabe a Victoria lidar com os problemas e não fugir mais.

É um livro que nos toca, pelos temas do abandono, da depressão, das duras batalhas interiores que cada um trava com a solidão. Mas, que as flores, são os pequenos focos de luz que podem ajudar a sair desses estado,  que estas podem dizer aquilo que por vezes a boca não diz, mas o coração sente, e são o farol que ajuda o barco a chegar a bom porto, junto da família que aguarda pacientemente!





26/06/2021

Leituras 2021: Um longo caminho para casa, Alan Hlad


Ao ter espreitado umas páginas deste livro, não resisti e comprei-o, isto porque fiquei logo com a ideia de que seria diferente, um “olhar fresco” sobre um conflito tantas vezes descrito, romanceado e trabalhado sobre diferentes ângulos.

Este é, ainda que sob a forma de romance, um livro que relata a importância que foi dada aos pombos, na transmissão de informação entre a França ocupada e a Inglaterra, num esforço de libertar a Europa do jugo nazi.

E foi uma história deveras cativante, pelas descrições detalhadas, pelos acontecimentos narrados e pelo contar da história sobre diferentes perspectivas. O americano Ollie, que após a morte de seus pais, decide juntar-se ao exército britânico e pilotar aviões no esquadrão da Royal Air Force. Susan a neta de um importante local tratador de pombos chamado Bertie. Será Susan e a sua adorada Duquesa, que com o seu conhecimento determinará o rumo de uma importante operação, que foi determinante em lograr os planos nazis de ataque à Inglaterra. 

O romance acaba por ser um compêndio de informação sobre o Serviço Nacional de Pombos que participou na chamada Operação Columba, em que milhares de pombos transportaram mensagens chave através do canal da Mancha, estabelecendo a comunicação entre militares ingleses escondidos em França e rebeldes franceses com os ingleses. Acaba, assim, por ser Duquesa parte essencial e determinante na história, mas por ser também, o elo de ligação entre os dois apaixonados. 

O que mais me agradou no livro: Susan, como ela lutava e enfrentava as situações que não lhe agradavam. Uma mulher destemida, idealista e apaixonada pelos seus pombos, vimos isto várias vezes ao longo do livro, recordo particularmente a sua indignação ao saber como estes eram transportados nos aviões e largados em França, e como manifestou o seu desagrado!

O outro lados da história, contada por Ollie, é também muito interessante, Ollie é generoso, altruísta e apaixonado por aviões, por diversas vezes temos descrições exactas dos aparelhos, das suas características, das suas limitações. É modesto mas com uma paixão por voar que poucos suplantavam. E no entanto no livro Ollie nunca pilotou, não foi o aviador herói, foi um espião por acidente e também ele teve um papel fundamental no desenrolar dos acontecimentos! 

Diferentes perspectivas de um conflito, através dos olhos vividos de Bertie, da apaixonada Susan, do destemido Ollie, da resistência francesa e do seu convívio diário com o inimigo! E da Duquesa a mensageira perdida de uma história de amor, que anos mais tarde, reúne os apaixonados que se julgavam mortos (perdoem o spoiler!).

Não sei porque mas foi um livro que me tocou muito, de certa forma relembrou-me o relacionamento que tive com o meu avô, que tinha poucas palavras, mas gostava de nos ensinar coisas sobre abelhas, sobre carpintaria, como tratar das vinhas… assim era Bertie passando a sua sabedoria a Susan e ajudando-a a manter a esperança em dias melhores.

Em suma um livro que me surpreendeu, com uma escrita excelente e que me cativou, desde a capa até ao último ponto final!






20/06/2021

Leituras 2021: Segredo Mortal, Bruno M. Franco


 O meu primeiro livro do autor, um livro fora do género que aprecio e a vontade de apoiar os nossos autores, uma boa combinação. No início confesso ter ficado um pouco confusa, pois não conseguia, associar o evento que devastou Lisboa, com a história, claramente esta foi uma excelente estratégia para nos aguçar a curiosidade. E mais para o final compreendemos onde ambas as histórias de entrelaçam, onde passador presente se reúnem num final que faz todo o sentido!

Gostei da história contada a três vozes, Carlos vítima de um esquema complicado, o inspector Leonardo e o criminoso Lúcio! Descreve ainda a dinâmica entre o inspector Leonardo e a inspectora, e a sua parceira, Marta Mateus. Desde o início que pressentia que havia ali uma faísca, e o desenrolar da história só veio confirmar as minhas suspeitas. E confesso que a personagem da Marta Mateus me agradou muito, espero que nos próximos livros, sim porque certamente haverão mais, a mesma tenha mais destaque!

Os inspectores têm uma boa sinergia e esta vai ser necessária para a resolução do crime macabro, que ocorre na praia da Fonte da Telha. Acho que esta parte do relato foi arrepiante, a história pinta um criminoso doentio, com um tal requinte de malvadez que nem sei que diga, pensei, mas há disto em Portugal? Esta é uma realidade nossa? 

Mas a polícia persegue, inicialmente, o criminoso errado, e será Carlos, um jovem despreocupado num dia, que se torna perseguido e um fugitivo no outro. Está foi a personagem que mais dificuldade tive em ler, ao início não percebi porque fugiu ele da polícia? Porque não contou a sua versão da história e ajudou à investigação? Mas isso tanto teria criado o impacto e permitido a história secundária, dos verdadeiros pais de Carlos! 

É uma narrativa, que nos prende, cativa e torna-se difícil pôr o livro de lado. Está bem construída, com uma linguagem simples mas envolvente,  somos transportados para uma história, dentro de outra história, um puzzle de pequenos pedaços que no final se completa e nos deixa completamente surpreendidos! Espero ler mais deste autor e que a despedida da dupla de inspectores tenha sido um até breve!


13/06/2021

Leituras 2021: A Guardiã dos Sonhos, Rani Manicka


Sinopse:

“Os sons, os cheiros e os sabores da Malásia do século XX – um mundo sensual e exótico, povoado de mitos e magia, de deuses e fantasmas – unem-se numa sábia combinação de tradição e realismo mágico para contar uma história de riso, perda, amor e traição, que é, no fundo, o relato da vida atribulada de quatro gerações de mulheres.

Lakshmi é uma jovem de apenas catorze anos quando é obrigada a deixar o Ceilão, onde nasceu e viveu até então, para se casar com um homem bastante mais velho. Cinco anos depois, Lakshmi tem já cinco filhos e, não obstante a sua idade, apercebe-se de que terá de ser ela própria a construir o seu futuro. Implacável na sua determinação, tornar-se-á na admirável matriarca da família. Os seus filhos e filhas, com as suas distintas personalidades e percepções da história, vão configurando a saga familiar, que alterna momentos de alegria e dor, como os vividos aquando da cruel invasão japonesa, que deixará indeléveis cicatrizes em todos eles. Nisha, a neta, será quem finalmente irá reconstruir o mosaico da história familiar e o legado de Lakshmi, a Guardiã dos Sonhos, para nos oferecer uma complexa e sensual trama de sentimentos e vivências que atravessa a vida de quatro gerações.”

Opinião: O bom dos grupos de livros, é que nos chegam livros que nunca antes teríamos conhecido, ou sequer pensaríamos ler. Mas assim que alguem sugeriu e eu li a sinopse acima, fiquei muito curiosa e claro só queria ler o livro! Este entusiasmo não se desvaneceu enquanto esperava que chegasse e através de uma leitura conjunta, que acabei por não seguir pois a história começou muito bem, li a história de vida de Lakshmi. No início? Achei cruel, fiquei chocada, mas não consegui deixar de ler. Esta história é como um murro no estômago, deixa-nos várias vezes sem ar!

O que nos conta afinal o livro? Histórias, de mulheres, de vida, de relacionamentos, sobre comunicação, confiança, lealdade… a história de quatro gerações de mulheres e o seu percurso de vida, desde o Ceilão até à Malásia. A escritora é minuciosa nas descrições e socorre-se de uma linguagem rica e detalhada nas suas descrições, e quando damos conta, estamos presos à história de Lakshmi e da sua família. 

Podemos dizer que a história tem um antes e depois, a felicidade e a realidade. Antes da invasão japonesa e após a partida destes. Mas para perceber há que voltar um pouco atrás, Lakshmi com 14 anos é casada com um homem muito mais velho, que se pensava ser rico, aqui começa a verdadeira trama, não só não é rico, como a afasta da família ao levá-la para a Malásia. Pensamos que vilão, que história triste e nefasta! Mas Lakshmi rapidamente se habitua a este marido, à vida de casada, a ser mãe e a matriarca de quem a família depende!

É Lakshmi quem dará ritmo à história, o seu carácter decidido, o seu engenho, salvaram muitas vezes a família da fome, e do saque durante a estadia do japoneses, mas por muito engenho que tivesse, não conseguiu proteger um elemento da sua família é isso foi ponto determinante na história da sua família, causando uma ruptura na mesma.

Será a sua neta Nisha a reunir a história da família, através de pequenos relatos deixados em cassetes pela sua mãe, que através desta manta de histórias constitui o relato desta saga familiar, dos seus dramas, histórias, vicissitudes e triunfos.

Creio que é sobretudo uma história de tradições, do poder no feminino, da vida familiar, das tradições e de legados (as jóias, os saris de Laskhmi), contada de uma forma tão cativante que era impossível não gostar deste livro!



10/06/2021

Leituras 2021: O pesadelo de Alice, Sophie Hannah


Uma leitura conjunta de um livro que não me convenceu. Uma história que coloca uma mãe, algo psicótica, no centro da ação mas desde logo uma personagem algo contraditória, com uma história mal contada e que não foi capaz de me cativar.

A história anda à volta de uma mãe que jura a pés juntos que a sua filha foi trocada, com tudo isto apresenta queixa na polícia, contra opinião do marido e da sogra. Deixem-me dizer que a personagem da sogra diz logo tudo ao início… o marido esse foi a maior surpresa, uma personagem execrável, com uma personalidade fraca e cruel!

A história tinha tudo para ser boa, mas existem muitas incongruências na mesma. Por exemplo, Alice aceita os maus tratos do marido por estar fragilizada, mas é capaz de tecer um plano tão elaborado? O objectivo, que abrissem uma investigação, de forma a investigar a morte da primeira esposa do marido. Porque não foi ela honesta com a polícia se se encontrou várias vezes sozinha com o detetive? E porque se deixou ficar na casa com o morando e a sogra tendo medo de ambos?

A escrita reflete a história, um pouco confusa. Não foi um livro mau, mas também não foi bom, havendo tantos livros bons por aí dentro do género, creio que este não será uma recomendação que faça, pois não foi nada por aí além.


06/06/2021

Leituras 2021: O tempo entre costuras, María Dueñas


Este livro esteve  na minha estante algum tempo, saiu de lá por conta de um desafios de leitura conjunta do grupo Clube de Leitura Manta de Histórias. E foi uma surpresa tão, mas tão boa! A escritora tem mesmo o dom da palavra e as descrições são fantásticas! Por vezes penso que tenho cá tantos livros em casa que devem ser tão bons e ainda não lhes peguei!

O que senti com esta leitura? Que era difícil cumprir as metas diárias, porque queremos sempre ler mais um bocado. Um bom livro é difícil de deixar, e a história de Sira é (foi) boa demais!

A história narra os acontecimentos passados em Espanha e Marrocos durante a guerra civil e a segunda guerra mundial. Acompanhamos a jovem Sira Quiroga, que trabalha com a sua mãe num atelier de alta costura em Madrid, conhece um jovem, decidem casar, até que a ambição do noivo leva Sira a uma loja de máquinas de escrever. Será esse momento que vai mudar o destino de Sira, aí se perde de amores por Ramiro e vai virar a sua vida do avesso por ele!

Mas Sira sofrerá devido a este amor louco, e em Marrocos passa de mulher enganada, iludida a uma mulher que se dota de recursos, se reinventa após os acontecimentos dramáticos que vive e com uma ajuda improvável de um inspector da polícia local e uma “comerciante” algo invulgar! Sira vai triunfar e reerguendo-se como uma fénix das cinzas, cria uma persona chamada Arish, abrindo uma casa de alta costura para as damas da sociedade marroquina. Com ajuda de alguns mas poucos bons amigos, luta para melhorar a sua condição, para trazer a sua mãe da Espanha em guerra, envolve-se em espionagem, conhecendo aquele que será o seu grande amor e fazendo pelo seu país o que poucos conseguem fazer e de maneira invulgar!

Entre Tetuán, Madrid, Lisboa, Sira fazendo da costura, a sua arma de luta, vai ajudar os ingleses a espionar a alta sociedade alemã, através das esposas dos militares e dignitários alemães tanto em Tetuán como em Madrid. E será em Lisboa numa missão altamente perigosa que Sira, reencontra o seu amor, também ele um espião ao serviço de sua Majestade!

O livro é extremamente rico, nos detalhes históricos, arquitectónicos e no retrato da sociedade da época. Numa escrita minuciosa, sempre apontando todo e qualquer detalhe que saberemos ser essencial à construção da narrativa. 

Fiz esta leitura através de um desafio da Manta de Histórias e ainda bem que a decidi fazer, pela história, pelo contexto, acima de tudo pela mulher forte que Sira se tornou e o exemplo que se tornou!


05/06/2021

Leituras 2021: Deve ser Primavera algures, Pedro Rodrigues



 
Este foi uma estreia para mim com o autor. Pensando eu que seria um livro de leitura leve e despreocupada comecei a sua leitura com a postura leve e pensando que seria um romance bonito com um final feliz. Pois não foi, é uma história triste, que fala de abandono, de desilusão e dos enganos e desenganos que a vida proporciona.

Senti pena da mãe, de coração embrutecido pelo abandono do marido, pela luta que trava numa tentativa de criar os filhos, mas fraca de espírito, presa a à religião e ao temor a Deus, mas pouco consequente no quanto as suas ações afectariam os seus filhos, condenando-a à solidão.

Acompanhamos o crescimento dos dois filhos, com a sua mãe abandonada, perdida e que nada faz senão resignar-se. Fiquei tão, mas tão triste, pelo destino de Joaninha, uma menina que poderia não  ter conhecido um lado tão negro da vida, e que por causa da sua mãe, das suas cruéis palavras, “se perdeu” nos caminhos da prostituição, sendo tão inteligente pensei que conseguisse triunfar e melhorar a sua vida. Mas não vive presa à sua mãe alcoólica e a seu irmão Manuel, que é doce, inocente e sofre de um atraso de desenvolvimento mas adora a sua irmã.

Com esta leitura senti pena, do que Joana poderia ter sido, do que Manuel sentiu ao ser tirado à mãe, é uma história que contada sem grandes floreados, nos deixa acima de tudo tristes e revoltados, com a vida, com o destino e com aquele pai que partiu é mais não quis saber dos filhos!

Este é um daqueles livros que nos enganam, capa linda, título bonito é uma história que nos parte o coração e a que não podemos ficar indiferentes!