Título: Mulheres que compram flores
Autora: Vanessa Montfort
Edição: 08-2020
Editor: Porto Editora
Páginas: 384
Género: Romance
Período de Leitura: 14 a 29 de Março
Sinopse
Num bairro pequeno e central da cidade, há cinco
mulheres que compram flores. A princípio, nenhuma o faz para si própria: uma
compra-as para um amor secreto, outra para o seu escritório, a terceira para as
pintar, uma outra para os seus clientes, e a última… para um homem morto.
«A última sou eu e esta é a minha história.»
Após a perda do seu companheiro, Marina percebe
que está totalmente perdida: durante demasiado tempo, ocupou um lugar
secundário na sua própria existência. Procurando começar do zero, aceita um
trabalho temporário numa curiosa florista chamada «O Jardim do Anjo». Lá,
encontrará outras mulheres, todas muito diferentes entre si, mas que, como ela,
estão numa encruzilhada vital no que diz respeito ao trabalho, aos amores, aos
desejos ou à família. Do relacionamento entre elas e Olivia, a excêntrica e
sábia dona da florista, despontará uma amizade íntima da qual depende o novo
rumo que as suas vidas tomarão.
Viciante, divertido, romântico e honesto, Mulheres
que compram flores é um comovente romance sobre amizade e independência
feminina, numa viagem épica rumo ao centro dos sonhos da mulher contemporânea.
A Minha Opinião:
Este livro vai contar-nos a história de seis
mulheres, que nada têm em comum entre si excepto o facto de nunca terem vivido
o amor pleno. Os seus encontros, graças à pequena florista no Jardim do Anjo,
vão proporcionar momentos de verdadeira descoberta e libertação para aquelas
mulheres. Guiadas pela sábia Olívia, acabam por se libertar dos medos com que
vivem, que as condicionam, para partirem à descoberta de si mesmas e deixarem
de obedecer ao que a sociedade espera delas e do seu papel.
Esta florista situa-se no bairro das Letras, em
Madrid, e é onde se centrará quase toda a ação do livro, aqui as seis mulheres,
em pleno verão, iniciam o caminho para darem um novo rumo à sua vida. Tudo
começa com a chegada de Marina à florista, é a primeira das mulheres a que de
certa forma somos apresentados, Marina procura a sua entidade após a perda do
seu marido Óscar, que a deixou no mundo sem rumo, uma “co-piloto” que se vê só
e incompreendida pela família, que inicia a mudança de rumo,com uma mudança de
casa, e numa florista em particular:
“Num bairro pequeno e central da cidade, há cinco
mulheres que compram flores. A princípio, nenhuma o faz para si própria: uma compra-as
para um amor secreto, outra para o seu escritório, a terceira para as pintar,
uma outra para os seus clientes, e a última…para um homem morto.”
Marina dá-nos conta da sua história, mas também as
histórias das outras mulheres, mostra-nos como, de uma pequena lagarta envolta
na sua crisálida, pode emergir a borboleta que estende as suas asas e aprende a
voar pelos céus da vida sozinha. A autora não fala só de Marina, que tenta
redefinir-se após a perda do marido. Retrata também a história de cada uma das
seguintes mulheres, Gala, Casandra, Victoria, Aurora e Olívia que são as novas
amigas de Marina.
Guiadas pela sabedoria de Olívia, cada uma delas
parece inserirem-se numa “categoria” das mulheres na sociedade actual. Aurora a
que sofre por um relacionamento que não é equitativo e se vê explorada psicologicamente
e financeiramente pelo parceiro. Gala que busca manter a sua beleza intocável
não aceitando uma relação estável, o passar do tempo e o efeito que tem na sua
aparência. Cassandra, a super mulher que está lá por tudo e todos e Victoria a
mulher que está em todo o lado e tem que ser bem sucedida em todas as vertentes
da sua vida quer seja pessoal ou profissional. E Olívia que age como a voz da
sabedoria, movida pela sua experiência guia estas mulheres e incentiva-as a
viverem e a não se deixarem paradas, assim todas elas acabam de sair das
situações que as frustravam e que as impediam de viver a vida em pleno!
Marina consegue cumprir a sua promessa ao marido
de deixar as suas cinzas em Tanger, navegando até lá, e será nesta viagem que
nos conta a sua história e a das outras mulheres do seu grupo, de amor, da
amizade, solidariedade e entreajuda que se estabelece entre elas!
É sobretudo uma história que nos fala da realidade
das mulheres de hoje, das suas dificuldades, no viver num mundo de aparências, o
mostrar sempre o seu lado forte e que para ser bem sucedidas têm que ser triunfar
em todos os campos da sua vida, a falha não é aceitável. Mas aqui está, esta é
uma história que retrata mulheres imperfeitas, que aceitam que o caminho não é
a perfeição ou o aceitar tudo, e viver de acordo com as expectativas criadas
para as mulheres, mas pelo contrário é conviver com as imperfeições, aceitá-las
e fazer as coisas da melhor maneira que conseguem, vivendo para si e não para
as expectativas que criam os outros!
Este foi o meu livro de estreia com a autora, confesso que não foi um livro que me foi fácil de ler, existem muitas personagens, histórias que se entretecem, mas que depois são pouco exploradas e com um final que considero abrupto. Foi uma leitura que considerando o todos gostei bastante, mas fiquei
com pena porque achei que Olívia merecia mais atenção (ou mais umas páginas do
livro).
Classificação:
4/5
Excertos:
“Mas nessa altura já sabia
que a vida era um espetáculo sem ensaios. Uma estreia sem rede de segurança. A
tua partida ensinara-mo. E continuei a confirmá-lo depois deste verão que mudou
a minha vida.”, página 14
“De que, para se
reconstruir, qualquer ser humano precisa de encontrar o seu próprio oásis. Um
lugar que contivesse a paz ansiada, onde fosse possível estar rodeado das
coisas que nos faziam felizes para nos fecharmos com elas quando precisássemos.
Uma toca onde hibernar, mesmo que fosse verão. Uma estufa com o microclima
perfeito para crescermos, para nos transformarmos e fortalecermos novamente. O
meu oásis teria a forma de uma florista e chamava-se O Jardim do Anjo.”, página
18
“– O que quero dizer é que,
na vida, quando sofremos um golpe duro que nos arranca do nosso estado de
conforto, tudo é novidade, queiramos ou não, e a pessoa que somos é passível de
ser reescrita. Dás-te conta da vantagem que tens? – continuou, abanando-se com
um leque branco como o seu vestido de linho, e as duas borboletas de vidro que
lhe pendiam das orelhas pareciam segui-la a voar.”!, página 52
“Decididamente, o Peter Pan
está a ensinar-me muitas coisas.
Ensinou-me, por exemplo, a
não ficar fundeada, encalhada em doca seca toda a vida. Porque um barco que
fica muito tempo num porto oxida-se e apodrece.
O Peter Pan ensinou-me ontem
à tarde a importância de aproar ao vento. Antes é preciso esperar pelo momento
certo em que sopre a favor para desfraldar as velas sem maior esforço e com um
puxão experiente. Depois, basta esperar que nos empurre. Mas ai de nós se não
aproveitamos o momento. Talvez não tenhamos outro.”, página 111
“Sabes, Marina? Há uma coisa
que sempre me assustou. As pessoas que morrem sem nunca terem passado pela fase
da crisálida morrem sem se conhecerem. O mínimo que se espera é que cheguemos
aos nossos últimos dias e digamos a nós mesmas: «Muito prazer por te ter
conhecido.» Não achas?”, página 133
“Na sua cabeça não tinha
deixado de ecoar uma frase da Olivia: «O verdadeiro amor é inesperado.
Inevitável. Quando até nos aborrece sentir o que sentimos por essa pessoa. E
nos assusta. No entanto, se nos deixarmos levar e nos atrevermos a apreciá-lo
sem medo, não há nada no mundo que nos faça sentir mais vivos.”, página 135
“Creio que foi pouco depois
desse dia que li um artigo de Luis Rojas Marcos em que explicava que a mulher
espanhola era a terceira mais longeva do mundo. E o mais divertido e chocante
era que, segundo o seu raciocínio, isso se devia a falarmos muito. Se a sua teoria
estiver certa e só tivermos em conta o que falámos durante aqueles dias, agora
nós as cinco devemos ser praticamente imortais. O psiquiatra argumentava que,
ao expressarmo-nos, exteriorizávamos os nossos sentimentos através da palavra.
Resumindo e concluindo, segundo ele devíamos a nossa sobrevivência extrema à
conversa: uma terapia para ativar as nossas defesas e suportar a adversidade. ”,
página 204
“Agora já sei. É preciso
aprender a dançar sobre um cemitério. A fazer nascer flores sobre os mortos. A
aceitar o fracasso, porque o fracasso não existe. Só existe o fim das coisas.
Não nos ensinam a aceitar a caducidade do que é importante. Não nos ensinam que
às vezes o único fracasso é a inércia de as fazer continuar.
Porque tudo caduca, como me
disse a Olivia, as coisas boas e as coisas más. O amor e o sofrimento. Agarro com força na tua urna
e penso que uma vida que termina não é um fracasso. Tudo depende de como a
vivemos. E se a minha terminasse esta noite, após esta viagem, já seria um
êxito. Uma relação que termina não é um fracasso, depende do que nos deu, de
como nos enriqueceu, do que nos deixou depois da sua morte.
Se tiver compensado, foi um
êxito.
Não viver ou só pensar que
se vive não é.
É preciso amar. E amar bem.
Intensamente. Mesmo que acabe.”, página 365
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