05/02/2022

Suite Francesa, Irène Némirovsky

Suite Francesa, Irène Némirovsky


Editor: Dom Quixote 

 Páginas: 584

Data Publicação: Março 2015

Data Leitura: 17 a 30 de Janeiro 


Sinopse

Suite Francesa é, ao mesmo tempo, um brilhante romance sobre a guerra e um documento histórico extraordinário. Uma evocação inigualável do êxodo de Paris após a invasão alemã de 1940 e da vida sob a ocupação nazi, escrito pela ilustre romancista francesa Irène Némirovsky ao mesmo tempo que os acontecimentos se desenrolavam à sua volta.

Embora tenha concebido o livro como uma obra em cinco partes (com base na estrutura da Quinta Sinfonia de Beethoven), Irène Némirovsky só conseguiu escrever as duas primeiras partes, Tempestade em Junho e Dolce, antes de ser presa, em Julho de 1942. Morreu em Auschwitz no mês seguinte. O manuscrito foi salvo pela sua filha Denise; foi apenas décadas depois que Denise descobriu que o que tinha imaginado ser o diário da mãe era na verdade uma inestimável obra de arte, que viria a ser aclamada pelos críticos europeus como um Guerra e Paz da Segunda Guerra Mundial.

Romance assombroso, intimista, implacável, desvelando com uma lucidez extraordinária a alma de cada francês durante a Ocupação (enriquecido e completado pelas notas e pela correspondência de Irène Némirovsky), Suite Francesa ressuscita, numa escrita brilhante e intuitiva, um momento decisivo e marcante da nossa memória colectiva.


Opinião:

Eu comecei neste livro com grandes expectativas, porque já tinha visto o filme, foi um precedente, pois normalmente leio o livro primeiro. Pouco conhecia da autora, mas o prefácio do livro  dá-nos uma bom resumo da sua vida. A autora nasceu em Kiev e, devido à revolução bolchevique, viu a fortuna de sua família arrestada e exilaram-se em França. Os pais converteram-se ao catolicismo, sem renegar as  origens judias. Durante a ocupação da França pelo exército nazi, Iréne Némirosvsky já consagrada como escritora de sucesso e com algumas das suas obras adaptadas ao cinema, não consegiui escapar ao regime nazi. Em 1940, foi presa, a cidadania francesa negada, deportada em 1942  para Auschwitz,  e morta logo à sua chegada.

O seu marido, Michel Epstein, foi também preso e deportado alguns meses depois do seu desaparecimento, chegando oferecer-se para troca com a sua mulher, acabou também preso e morreu em Auschwitz, no mesmo ano ano. As filhas, fugiram com a governanta e sobreviveram à guerra. E os manuscritos deste livro estavam na posse delas, foi Denise Epstein que descobriu, que as páginas guardadas não eram um diário, mas tratava-se de um romance, trabalhando sobre as anotações da sua mãe, revelou 60 anos depois, este livro fantástico.

Mas de regresso ao livro, a primeira parte, chamada de Tempestade de Junho, retrata a fuga de milhares de pessoas da cidade de Paris, em busca de um lugar mais seguro e também a fuga aos nazis. Acompanhamos duas famílias os Péricand, os Michaud e também um escritor famoso, Gabriel Corte. Como histórias secundárias vamos acompanhar o filhos dos Péricand que se quer juntar ao exército, o filho dos Michaud ferido em combate e em recuperação tão perto dos pais e da amante do responsável do banco, Corbin, onde trabalhavam os Michaud. Sentimos a tensão, o início das provações, os assaltos, o clima de desconfiança e de medo que se começa a instalar e de como cada família se adapta ou tenta fazer por isso à nova realidade que se começa a impor. Algumas pessoas tornam-se melhores e outras revelam traços de uma tremenda falta de carácter, como sendo o caso de manda-me Péricand. Corbin ou o escritor que se acha o supra sumo da sociedade…

A segunda parte do livro, Dolce, é já a realidade retratada também no filme, é o retrato da realidade da vida numa pequena vila, a de Bussy, que após a chegada das tropas alemãs vê a sua rotina bucólica um pouco sacudida com estas presenças. Os sentimentos que sentimos nesta parte, são variados indo do ódio ao amor, passando pela luxúria e pela aceitação. A vila tem basicamente mulheres de todas as idades, idosos, crianças e incapacitados. Com a chegada dos soldados alemães despertam-se sentimentos díspares em várias personagens, algumas mulheres sentem a luxúria que a atenção dos jovens e atraentes soldados lhes desperta. Noutros desperta o ódio pela ocupação, pelo desrespeito dos costumes de França, ressentimento porque os filhos partiram para a guerra e são prisioneiros dos nazis. É uma vivência sob uma constante tensão, medo e desconfiança. Mas vemos retratado o outro lado do “inimigo”, é impossível não gostar de Bruno von Falk, um militar alemão, sensível, compassivo, carinhoso e atento. Um amante da música e apanhado nas teias da guerra, numa posição que não queria mas para a qual não lhe foi dada escolha, que sentimos ser contra as atrocidades que se praticam. Indo viver com a família Angellier, apaixona-se por Lucille, que está dividida entre o amor a este homem e à pátria, para complicar ainda este romance, esconde também um residente da vila, Benoit, que é acusado de matar um soldado alemão. O livro é interrompido quando sabemos da invasão  da União Soviética em 1941.

A última frase do livro é esta: “Pouco depois, na estrada, no lugar do regimento alemão ficou apenas um pouco de poeira.” O final do livro é triste, menos emocionante que o final do filme, mas prefiro este final, porque deixa em aberto o destino de ambos, não há um sentimento de fecho, a história de Bruno e Lucille fica aberta a várias possibilidades. Esta história vem mostrar que nem sempre o mundo é preto e branco, que em ambos os lados de um conflito existem pessoas, que infelizmente se vêm em situações e lugares aos quais não podem fugir. Certamente um livro a não perder!


Classificação: 4 ****

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