Um almoço de Domingo, Luís Peixoto
Ano de edição: 03-2021
Editor: Quetzal Editores
Páginas: 264
Período de Leitura: 14 a 27 de Janeiro
Sinopse: Um romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.
Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos,
entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de
identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo
da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora
das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura.
Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num
percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de
abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este
é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor
profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu
almoço de domingo.
Opinião: Ler este livro foi, como comer a minha sobremesa
favorita, é uma analogia estranha, mas passo a explicar. Primeiro olhamos para
o seu aspecto exterior, de seguida, saboreáramos cada colherada que nos chega à
boca, degustamos calmamente até que chega ao fim. Assim foi com o livro, comecei por
apreciá-lo, olhei para o seu aspecto, abri-o, cheirei-o, deixei a mão deslizar pelas páginas e
senti a textura do papel, aprecei a disposição das letras e somente depois
iniciei a leitura da história.
O romance é um retrato da história do sr. Rui Nabeiro, menino, rapaz e homem responsável pela sua família e tantas outras em Campo Maior, passando pela história do próprio país. Fala-nos do seu quotidiano na infanção com os país, da sua participação na fábrica de torrefação de café, de como conheceu a sua Alice e o quanto aprecia esta sua companheira de vida, de como a Delta cresce e se torna uma marca tão especial. É um romances emocionante por vários motivos, pelos momentos ternos que nos conta, pelos momentos que nos afligem como a tentativa de salvar a sua irmã em Inglaterra, e pelos momentos de suspense criados aquando do relato das travessias clandestinas e quando é preso em Badajoz.
Este acaba, por ser de certa forma, o relato de uma saga familiar, o registo dos acontecimentos da família sob a forma de memórias, uma família com valores tão simples como a honestidade, o respeito e a dedicação. Estes valores que se traduziram numa marca como a Delta, mas que é representada por uma pessoa fora do comum, que sim um empresário, mas que procura estar próximo dos outros, com uma dose de empatia e de palavra fácil, traduzindo a linguagem complicada do negócio em algo tão simples como uma boa conversa. Pois, parece-me que é isto que o sr. Rui sempre tem, uma palavra que se adequa a cada um, uma maneira de estar e de se relacionar com os outros sem olhar a convenções, a preceitos de moda ou a cargos e posições. Está lá pelo outro e para o outro sem floreados, sem trapaças e mostrando o que de si em si tem de melhor!
Este livro conta-nos a memória de muitos almoços de domingo, eventos de família, onde se partilham história e se dá sentido à vida familiar. Retrata o dia de aniversário comemorativo dos 90 anos do comendador e os dois dias anteriores, mas este é, e acaba por se o retrato da família, do círculo de amigos, da vida na comunidade de Campo Maior. Sente-se a gratidão, o reconhecimento, a alegria na celebração de um homem que dedicou a sua vida a edificar um negócio que beneficia a sua comunidade, os seus e todos os que a ele recorrem.
Um excelente livro e recomendo vivamente a sua leitura!
Classificação: 5 estrelas
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