Este livro para mim foi uma surpresa, apresentou-se sob a forma de um romance onde possivelmente os acontecimentos descritos foram adaptados à narrativa, as personagens com uma descrição não tão fiel à realidade e para que nos seja apresentada uma bela e perigosa história de amor em tempos de guerra.
A história é-nos dada a conhecer através do olhar inocente, desprovido de conhecimento da situação da Alemanha de Magda Ritter. Esta no entanto, vai tomando consciência das atrocidades do regime à medida que o romance com o seu capitão se desenvolve. Não hs nenhuma alusão aos judeus, aos campos de exterminio e às crueldades a que Hitler cometeu contra os indignos que não fossem da raça ariana, mas as fotografias e histórias começam a fazer-se ouvir, e “a serpente” começa a invadir o paraíso de Berghof e o círculo de Hitler.
Magda é afortunada, deixa Berlim quando os bombardeamentos dos Aliados se tornam mais frequentes e com ajuda do seu tio que fazendo uso dos seus conhecimentos encontra um trabalh, que se torna, sem saber, uma das 15 provadoras de Hitler tanto em Berghof e no bunker secreto de Hitler. Magda não passa privações, prova comida confeccionada para o seu fuhrer e passa pela guerra com todas as comodidades possíveis nesses tempos. O único risco era comer comida envenenada e esse nunca foi grande... mas ela tinha muito medo e aprendeu a reconhecer alguns venenos, como o cianeto, o mais letal na época.
A escrita é pausada, permite-nos saborear as descrições e até nos causa alguma confusão. Porquê ? Pois não esperamos que certas personagens sejam descritas de determinada forma, a história retrata-as de forma cruel e no livro vemo-las descritas como sendo detentoras de simpatia e alguma doçura.
A acção tem altos e baixos, a primeira parte em Berghof retrata uma vida mais idílica, algo romântica de Magda que se apaixona por um capitão, dos passeios, das histórias e convívios. Mas onde também se vai tomando consciência da crueldade que Hitler reserva aos seus adversários, da sua loucura e obsessão (as provadoras, a fixação em comida vegetariana, a constante crítica aos outros...), já a vida no bunker revela a vivência mais perigosa, os jogos subtis e tentativas de tirar Hitler do poder e o papel, ainda que romanceado que Magda irá desempenhar na sua queda.
Este livro é também uma reflexão, mostra-nos que em tempos de guerra é possível encontrar bons e maus elementos tanto do lado alemão como do lado dos Aliados. Que foram cometidas atrocidades em nome de uma ideologia, em nome de um fanático que muitos alemães já reconheceram como tal tarde demais. Mas demonstra também, e de forma cruel, que até os que traziam libertação violaram, mataram e fizeram sofrer centenas de mulheres alemãs. Esta é claro a minha parte menos favorita, pois embora o autor seja comedido nas palavras a situação fala por si.
No entanto e por isto não esperava, o livro dá a Magda o seu final feliz, reencontra o seu capitão rebelde e casam-se estando juntos até ao final dos seus dias. Fiquei curiosa porque gostava de saber mais, onde viveram, como viveram, porque reservou Magda esta história tantos anos... mais uns capítulos poderiam ter sido incluídos!
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