Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-Rosa é uma das obras mais lidas por jovens de todo o mundo. Considerada um clássico da literatura juvenil, e inspirada na vida da própria autora, fala-nos da Segunda Guerra Mundial numa nova perspetiva e até com algum humor. Vive-se o ano de 1933. Anna tem apenas nove anos e anda demasiado ocupada com a escola e com os amigos para reparar nos cartazes políticos espalhados pela cidade de Berlim com a suástica nazi e a fotografia de Adolf Hitler, o homem que muito em breve mudaria a face da Europa. Ser judeu, pensa ela, é apenas algo que somos porque os nossos pais e avós são judeus. Mas um dia o pai dela desaparece inexplicavelmente. E, pouco tempo depois, ela e o irmão, Max, são levados pela mãe com todo o sigilo para fora da Alemanha, deixando para trás a sua casa, os amigos e os amados brinquedos. Reunida na Suíça, a família de Anna embarca numa aventura que vai durar anos.
AUTORA:
Judith Kerr nasceu em Berlim, em 1923. O seu pai, um famoso escritor alemão e feroz crítico do regime nazi, temia sofrer represálias caso Hitler subisse ao poder. Por isso, fugiram da Alemanha quando Judith tinha apenas nove anos. Judith, os pais e o irmão atravessaram a Suíça e a França e, em 1936, chegaram a Inglaterra. Foi aí que a autora escreveu esta história semi-autobiográfica, Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-Rosa, publicada pela primeira vez em 1971, e considerada um clássico da literatura infanto-juvenil.
Em 1945, Judith ganhou uma bolsa para a Central SchoolofArts, e, desde então, tem trabalhado como artista, guionista de televisão e, ao longo dos últimos trinta anos, como autora e ilustradora de livros infanto-juvenis.
OPINIÃO: Este não é um livro cor de rosa, não é um livro pretensioso e certamente deixa muito espaço para a reflexão. E começamos logo no prefácio, a autora pede que imaginemos o que faríamos se perdêssemos tudo o que temos, a família, os amigos, a nossa casa e se ficasse,os sozinhos no mundo. Logo aqui abandonamos a leitura e temos um momento de introspecção. O que faríamos? O que faria eu? Não consigo imaginar, posso dizer que seria uma heroína forte, que enfrentaria tudo com coragem e nunca perdendo a força de viver. Mas se há algo que está pandemia me ensinou é que nem sempre reagimos como idealizamos face a uma situação que não nos é desconhecida. Claro que não são temas semelhantes mas no que pensei no imediato foi na solidão e no isolamento.
Este livro deu-nos uma perspectiva diferente da Segunda Guerra Mundial e da história dos judeus. Neste livro acompanhamos as vivências de uma família judia que consegue sair da Alemanha, após serem perseguidos por serem judeus e o pai escritor um claro opositor ao regime nazi.
A história é-nos relatada por Anna, uma menina de nove anos, que sente medo, tem dúvidas e não consegue alcançar o porquê de alguém querer fazer mal aos seus e a outros judeus. E não percebe acima de tudo porque é que de repente tem de deixar a sua casa, os lugares, pessoas conhecidas, os seus pertences, em especial o coelho cor de rosa, que Anna diz ter sido roubado por Hitler. O coelho cor de rosa é uma analogia, tão bem feita, à usurpação dos bens dos judeus feita pelos nazis em nome de uma ideologia nada justa e benemérita, as atrocidades que iam sendo cometidas são-nos relatadas nome Anna que na inocência do seu olhar nos vai dando a conhecer a sua história.
Anna não percebe porque fugiram para a Suíça, porque mais tarde mudaram para Paris e depois se instalaram em Londres. O porquê de ter queaprender coisas novas, o ter que se adaptar a um novo idioma, conviver com pessoas diferentes e sentir a rejeição e o isolamento. Teve que lidar também com as privações, de comida, roupa, brinquedos e na sua visão inocente das coisas vemos com uma nova perspectiva como evoluíram e escalaram os acontecimentos durante a II Guerra Mundial e as consequências que teve para muitas famílias consideradas indesejadas e que não correspondiam ao ideal do partido nazi.
Este é um livro que nos fala, ou pelo menos a mim falou-me, do que significa: a perda do conhecido, o desenraizamento, da importância da família e amigos e o de quão forte uma criança pode ser face à adversidade. Mas fala também do sentimento de perda, que após perder a sua casa, Anna nunca se sente em casa, e sente tão somente como se não pertencesse e que para onde quer que vá é uma refugiada. No entanto Anna apercebe-se de que a sua maior fortuna é conservar a sua família quando muitos perderam a sua.
É tão somente um relato fantástico, dando uma luz diferente aos acontecimentos horrendos cometidos em nome da pureza de uma raça em nome de uma crença, onde surge um ódio por pessoas inocentes e que nada fizeram por merecer tais atrocidades. Escrito numa linguagem simples, que nos embala ao ritmo desta fantástica história, é um livro que li e que recomendo!
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