16/01/2022

O homem mais feliz do Mundo, Eddie Jaku

 O homem mais feliz do mundo, Eddie Jaku

Edição: 03-2021

Editor: Objectiva

Páginas: 176

Período de Leitura: 10 a 15 de Janeiro


SINOPSE:

Eddie Jaku nasceu na Alemanha em 1920 no seio de uma família judaica, sempre carregando com orgulho a sua nacionalidade. No entanto, tudo isso mudou drasticamente em Novembro de 1938, quando foi detido, espancado e levado para um campo de concentração. Depois de sobreviver aos mais desumanos horrores, perder os seus familiares, amigos e o seu país, Eddie fez uma promessa: sorrir todos os dias. Hoje acredita ser o «homem mais feliz do mundo».

Por ocasião do seu 100. º aniversário, Eddie Jaku oferece-nos um testemunho poderoso, desolador e, ao mesmo tempo, derradeiramente optimista de como a felicidade pode ser encontrada até no momento mais sombrio da Humanidade.

Opinião:

                         Aviso *** não consegui dar opinião sem spoilers ***


Este é um pequeno livro com uma mensagem poderosa, no final deixou-me com umas lágrimas nos olhos e com a voz embargada. Como se fala de uma história assim? Como se faz jus ao que me acabou de ser contado? Que ser humano tão bonito, que ensinamentos bons nos transmite e que mensagem nos deixa. Para mim, o principal ensinamento que nos deixa Eddie é o de valorizar o que nos é mais precioso na vida. Que volvidos 77 deste acontecimento terrível, é hoje, um ensinamento ainda mais válido, considerando o actual cenário em que vivemos: 

“O meu pai dizia-me que oferecer dá mais prazer do que receber, que as coisas importantes da vida, os amigos, a família, a bondade, são muito mais preciosas do que o dinheiro. Um homem vale mais do que a sua conta bancária. Nessa altura, eu achava uma tontice, mas agora, depois de tudo o que vi, sei que ele tinha razão.”, Excerto de: O homem mais feliz do mundo, Eddie Jaku, página 12.
“Na verdade, o meu pai proferiu palavras sábias, quando me disse que uma vida vale mais do que uma conta bancária. Há muitas coisas neste mundo que dinheiro algum pode pagar, e há coisas de valor incalculável. Família em primeiro lugar, família em segundo e família por último., Excerto de O homem mais feliz do mundo, página 18, Eddie Jaku

Eddie esteve inicialmente no campo de Buchenwald, fugiu para a Bélgica, como tinha conhecimentos de engenharia mecânica aí viveu e deu aulas um ano, tendo que se apresentar às autoridades por ser alemão! Da Bélgica fugiu para França com o pai, numa tentativa de irem para Inglaterra. Infelizmente, foram apanhados em Dunkerque, Eddie perdeu-se do pai, iniciou sozinho uma fuga a pé para o sul de França, foi apanhado e enviado para um campo de prisioneiros alemães em Pau, chamado Gurs. Daí, e devido um acordo feito entre a França e a Alemanha, foi deportado juntamente com outros 822 prisioneiros, para Auschwitz. Eddie conseguiu fugir do comboio em andamento, removendo os parafusos do fundo da carruagem com uma chave roubada a um oficial, perto de Estrasburgo encetou mais uma caminhada até ao apartamento que os pais tinham alugado. Com a ajuda de um amigo de família conseguiu de novo reunir-se com a família, os pais e a irmã Henni.
O relato a partir daqui torna-se cada vez mais cruel, sabemos dos os maus-tratos infligidos aos pais, ambos agredidos, e com marcas que permaneceram até à sua morte. Conseguimos sentir a mágoa de Eddie, por não saber onde estão os restos mortais ou cinzas dos seus entes queridos, as tias, que foram mortas no comboio que as levava para Auschwitz.

Eddie tinha uma família com uma essência tão boa, a bondade da sua família não tinha limites. Mesmo passando dificuldades, na sua mesa, quando se encontravam escondidos no sótão de uma pequena pensão, houve lugar para dois órfãos de 12 e 13 anos cujos pais foram levados pela polícia,  o amigo de Eddie, Kurt, também lá ia. Mas esta vivência foi de pouca duração, um dia o seu amigo desaparece, dias depois os pais, a irmã e Eddie são também capturados e enviados para um campo transitório em Malines, na Bélgica. O tom de Eddie nesta parte do  relato é de alegria, mas porquê? Porque conseguiram salvar os dois meninos órfãos, que com eles viviam, escaparam incólumes e estão ambos vivos ao dia de hoje. 

Esta felicidade é passageira, pois de seguida Eddie conta-nos o horror da chegada deles a Auschwitz, em Fevereiro de 1944. Sem saber nesse dia Eddie ficaria órfão, ambos os pais condenados à câmara de gás e em seguida levados para os crematórios. Esta parte foi dura de ler, por estas palavras: “Hoje ainda, caro leitor, se tiver essa oportunidade, vá até casa e diga à sua mãe que a ama muito. Faça isto pela sua mãe. E faça-o pelo seu novo amigo, Eddie, que já não pode dizê-lo à sua própria mãe.”Excerto de O homem mais feliz do mundo, Eddie Jaku, página 52. Aqui e com um nó na garganta dei por terminada a leitura no primeiro dia que comecei este livro.
Nos próximos capítulos vemos retratado, o dia a dia de Eddie e o seu amigos Kurt em Auschwitz, de como foram despojados de tudo o que os caracterizava como indivíduo: o nome, os pertences e acima de tudo a sua dignidade, constantemente maltratados, abusados e sempre com a dura pena de não saberem se sobreviveriam para ver o nascer do próximo dia. Que atrocidades viveram estas pessoas. Mas Eddie, graças ao seu amigo nunca desistiu, lutou para sobreviver aos horrores vividos naquele campo e diz que o que lhe valeu foi a amizade:

“Esta foi a coisa mais importante que aprendi até hoje: o melhor que nos pode acontecer é sermos amados por alguém.Não posso deixar de salientar este aspecto, sobretudo junto dos jovens. Sem amizade, o ser humano está perdido. Um amigo é alguém que nos faz sentir vivos.” Excerto de O homem mais feliz do mundo, Eddie Jaku, página 59

Eddie foi posteriormente enviado para uma fábrica, com o título de judeu indispensável, responsável por controlar 200 funcionários que tinham de se assegurar que a sua máquina não perdia a pressão e ele não podia permitir que as máquinas parassem sob pena de enforcamento. Aí descobriu que a sua irmã estava ainda viva e como muitos, estava em más condições. Agredido com uma pedra na fábrica Eddie é levado ao hospital e aí conhece um neuro-cirurgião que lhe pede que conceba uma mesa de operações e de certa forma o ajuda a passar algumas situações complicadas. A fábrica era um agridoce para Eddie, aí via a irmã, conseguia estar a salvo, mas tinha perfeita noção de que o trabalho deles servia para fabricar o gás que matava milhares de judeus nas câmaras de gás:

“Tornei-me engenheiro mecânico da IG Farben. Esta empresa cometeu alguns dos piores crimes contra judeus. Mais de trinta mil pessoas eram forçadas a trabalhar nas suas fábricas, que forneciam Zyklon B, o gás venenoso responsável por mais de um milhão de vítimas mortais nas câmaras de gás.
De certa forma, porém, estou grato às fábricas. Sem elas, estaríamos mortos. Mais de um milhão de judeus morreram em Auschwitz, mas existiam outros campos de concentração onde não havia trabalho nem nada que impedisse as SS de sonharem com um extermínio completo. Os donos da fábrica queriam manter-nos vivos e davam-nos injecções de vitaminas e glicose para nos manter a trabalhar. Era do interesse deles manter-nos suficientemente saudáveis para trabalhar.”, Excerto de O homem mais feliz do mundo, Eddie Jaku, página 62

As privações, mesmo sendo considerado judeu essencial, eram muitas,  e Eddie  como muitos era assolado pela fome, falta de higiene , mas nunca foi capaz de roubar a outros prisioneiros para sobreviver, mas foi ele vítima de roubos de ração, que ele viu como falta de princípios da parte de alguns, mas tanto do lado dos judeus, como dos alemães:  “A falta de alimento não justifica tudo. Não há medicamento para os princípios. Quando perdemos os princípios, é como se nos perdêssemos a nós próprios.”, Excerto de O homem mais feliz do mundo, Eddie Jaku, página 71

Eddie saiu de Auschwitz em 1945, a pé e com muitos outros prisioneiros, e foram parar a Gleiwitz, para pouco tempo depois, serem de novo ser levados para o primeiro campo onde tinha estado início desta tragédia. Em Gleiwitz deixou o seu amigo Kurt escondido num teto fechado com mais pessoas escondidas, pois não tinham forças para empreender tamanha viagem. Eddie tapou o buraco, deixou o seu amigo Kurt, e partiu, a pensar que talvez com um pouco de sorte se salvassem. A viagem de comboio foi muito dura, sempre debaixo de neve e em vagões abertos. Foi novamente o facto de saber mexer em maquinaria e ferramentas que levou à sua transferência para o campo de Sonnenburg, onde trabalhava numa fábrica subterrâne. Foi aí ajudado por um velho amigo do seu pai, que tinha lutado ao seu lado na primeira guerra. A fábrica foi bombardeada, após 4 meses, e com o aproximar das tropas russas e dos aliados, Eddie engrendra um plano de fuga por um tubo e escoamento de águas na lateral das estradas. Após uma fuga aparatosa, vaguear sem rumo, sobreviver de caracóis e lesmas, Eddie foi resgatado pelos soldados americanos e levado para um hospital sem muitas esperanças de vida. 

Já em Bruxelas, após seis semanas a lutar pela vida, quando teve alta, foi em busca da sua família, ia a uma cantina, conhecendo soldados de todos os cantos do mundo e sempre em busca de conhecidos! E foi aí, um dia, que também reencontrou o seu amigo Kurt!! Juntos procuram trabalho e alugaram um apartamento, Eddie começou a trabalhar como capataz de uma fábrica e Kurt como marceneiro. Mais tarde soube também que a sua irmãzinha Henni estava viva e trabalhava numa exploração de maçãs perto de Ravensbrück e fizeram planos para que fosse viver com Kurt e Eddie. 

Mesmo tendo o conflito terminado, e Eddie e o amigos bem de vida, sentiram que queriam ajudar outros, acolheram três raparigas que se tentaram suicidar, zelaram pela sua saúde e mantiveram-se em contacto por cartas. Foram construídas famílias, não unidas pelo laço de sangue, mas pelos laços de amizade, entreajuda e compreensão pelo outro. Eddie regeu-se sempre pelos ideais que lhe foram transmitidos pelo seu pai: “é dever de quem tem sorte na vida ajudar quem sofre, e que é melhor dar do que receber. Há sempre milagres no mundo, mesmo quando parece não restar qualquer esperança. E, quando não há milagres, podemos fazer com que aconteçam. Com um simples acto de bondade, podemos salvar outra pessoa do desespero, o que poderá ser suficiente para lhe salvar a vida. E este é o maior milagre de todos.”, Excerto de O homem mais feliz do mundo, Eddie Jaku, página 99.

No entanto Eddie não se sentia feliz na Bélgica, era refugiado, vivia num país que fez vista grossa aos agressores, aos colaboracionistas, aos ladrões. Eddie chegou mesmo a ver um homem a usar um fato seu que tinha ficado no apartamento alugado pelos seus pais! E a sociedade não os aceitava, o anti-semitismo não era físico, mas assumia a forma de rejeição pela sociedade com comentários como: ahh você é judeu! Como foi caso, da visita de Eddie à família do prisioneiro a quem Eddie, no comboio, prometeu entregar a foto do seu casamento. 

Tanto Eddie como Kurt se casaram. Kurt conheceu Charlotte e Eddie conheceu Flore, uma judia de origem grega. Esta sobreviveu com a sua família, alguns anos em França com uma identidade falsa, para fugir aos nazis e evitar ser deportada com a família para campos de concentração. Eddie ganhou de novo uma família semelhante àquela que perdera com a guerra e com a chegada do primeiro filho conseguiu ser novamente feliz! A sua vida mudou para melhor e continuou assim como a de Kurt e a da sua irmã. Kurt emigrou para Israel e Henni para a Austrália, Eddie acabou por fazer o mesmo, pois não pôde permanecer na Bélgica com o estatuto de refugiado. Eddie na Austrália singrou na vida, comprou casa, teve uma oficina de reparação e venda de peças e automóveis, foi agente imobiliário, colaborou para a construção do museu dos judeus, para a associação de sobreviventes do Holocausto… deu palestras. Eddie não perdoou, nem deixou cair no esquecimento os 6 milhões de judeus que foram exterminados como se fossem uma praga, conta-nos a sua história para que não esqueçamos.

Afirma que foi um homem feliz, pela felicidade que encontrou na família, nas páginas finais lemos: “Eis o que aprendi. A felicidade não cai do céu; está nas nossas mãos. A felicidade vem de dentro de nós e das pessoas que amamos. Quem for saudável e feliz, é milionário. 
a felicidade é a única coisa no mundo que duplica de cada vez que a partilhamos. A minha mulher duplica a minha felicidade. A minha amizade com o Kurt duplicou a minha felicidade. E no seu caso, meu novo amigo? Espero que a sua felicidade também duplique.”, Excerto de O homem mais feliz do mundo Eddie Jaku, página 108

E deseja isto aos seus leitores:
Espero que tenham sempre muito amor para distribuir,
Muita saúde para dar e vender,
E muitos bons amigos que se preocupem convosco.”
Excerto de, O homem mais feliz do mundo, Eddie Jaku, página 120

Um relato sem floreados, numa linguagem simples, concisa, direta, e de certa forma intimista,  Eddie quer tocar a todos com a sua história, um pequeno livro, com uma grande história, contada em pouco mais que 100 páginas que nos toca, nos emociona, nos faz pensar no significado da vida, da vida humana, na nossa própria vida e no acreditar num mundo melhor, construído por bondade e por histórias que retrate. O passado, para que o mesmo não se repita... 

Classificação: 5 *****


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